As declaraçons do presidente da Confederaçom de Empresários de Ponte Vedra, José Manuel Fernandes Alvarinho, sobre a incompatibilidade dos métodos de luita empregados polo proletariado do metal com o que deve ser o "sindicalismo moderno", a respeito da exemplar greve que se está realizando no sul da Galiza, responde a umha evidente lógica política. É umha chamada de atençom, um lembrança dos pactos reformistas, que deve ser analisada como conseqüência das contínuas cessons e claudicaçons ante o patronato e a burguesia realizadas pola imensa maioria dos aparelhos sindicais desde a Transiçom. As manifestaçons de Alvarinho pretendem pressionar às máfias sindicais de CC.OO-UGT para que controlem a combatividade e reconduçam a mobilizaçom e luita obreira dentro dos estreitos margens acordados nos Pactos da Moncloa de 1978.
Os acordos que maquilhárom o franquismo no actual regime de democracia burguesa espanhola supugérom, entre muitas outras cousas, a cooptaçom das direcçons sindicais espanholas por parte do Estado. O entreguismo que levou à desmobilizaçom e derrota da classe obreira como sujeito central da luita reportou imensos benefícios e privilégios à casta burocrática sindical que viu multiplicar as suas regalias acedendo às migalhas cedidas pola burguesia polos seus inegáveis serviços à hora de contribuir a esterilizar a luita de classes.
Deste jeito a maioria do sindicalismo bregado na década de setenta passou de ser umha ferramenta de defesa dos interesses d@s trabalhadores/as, por melhores condiçons salariais e de trabalho, de mútuo apoio e solidariedade de classe, de combate contra a exploraçom do capital e luita polo Socialismo, a ser simples empresas subsidiadas polo Estado burguês para frear a luita e contribuir a facilitar a recuperaçom por parte da burguesia as conquistas atingidas em décadas de luita obreira. A resignaçom, a moderaçom e o pactismo fôrom impondo-se na lógica do exemplar "sindicalismo moderno" que Alvarinho reclama perante a exemplo do metal.i
O maciço seguimento desta greve, as multitudinárias manifestaçons, a combatividade dos piquetes, a activa participaçom da juventude na luita, é natural conseqüência das duras condiçons de trabalho que paulatinamente se fôrom instalando no sector a medida que se aplicárom as selvagens receitas do neoliberalismo. As elevadíssimas taxas de precariedade laboral, as dramáticas cifras de sinistralidade, os baixos salários e simultáneo incremento do horário, a perda constante de poder aquisitivo, e a negativa dum envalentonado patronato a aceitar as mais que razoáveis reivindicaçons sindicais à hora de negociar a renovaçom do convénio colectivo, nesta ocasiom nom cristalizárom num novo retrocesso e derrota, ao nom se traduzir no habitual "acordo" à baixa entre as corruptas cúpulas do sindicalismo amarelo e os empresários. A importante presença da CIG entre o proletariado do metal e a tradiçom organizativa e combativa do sector está sendo determinante na orientaçom da luita.
Umha boa parte das reivindicaçons da greve do metal que hoje cumpre o seu terceiro dia som similares às que em Setembro de 1972 paralisou Vigo, incorporou milhares de jovens à luita sindical e política contra o fascismo e a exploraçom capitalista, provocando a ruptura com as práticas conciliadoras e entreguistas do carrilhismo, contribuindo a gerar a recomposiçom do sindicalismo nacional e de classe, madurecendo e acelerando a evoluiçom face a esquerda e introduçom no movimento obreiro do que até o momento nom deixava de ser o nacionalismo galego, um movimento culturalista pequeno-burguês.
Hoje, ao igual que há 33 anos, o capitalismo e todas aqueles segmentos sociais objectivamente interessados em manter a orde vigente, vem com preocupaçom umha luita que engloba a mais de vinte mil obreir@s, envolvendo a perto de 2.000 empresas, e que pode derivar numha greve total no sector metalúrgico do sul do país, -alargando-se ao sector do automóvel e empresas do naval com convénios próprios-, até atingir os 37.000 trabalhadores/as, e que mesmo pode provocar convocatória de greve geral na "província" de Ponte Vedra.
O resultado desta luita pode marcar o início da imprescindível recuperaçom da ofensiva de classe contra os planos do Capital, cuja imediata nova agressom global é a reforma laboral pactuada entre o PSOE, a CEOE, CCOO e UGT que será apresentada a vindoura semana, e que facilitará o despedimento, potencializará as ETT¨s e concederá ainda mais isençons fiscais à burguesia. O capitalismo neoliberal pretende com esta nova reforma avançar no objectivo estratégico de impor o despedimento livre e a total desregulamentaçom do mercado laboral. Tracejar e impor com a sua esmagadora maioria institucional os mais voraces planos contra o mundo do Trabalho. Os objectivos do Capital som ferozes e brutais. Pretende aplicar empregando a violência da legalidade vigente umha restruturaçom total das relaçons laborais, dinamitando os anémicos compromissos e acordos da Transiçom. Para esta tarefa conta com a cumplicidade e o inestimável apoio de Cándido Méndez e Fidalgo, os capos da máfia sindical, a cobertura do PSOE e do PP, e o desinteresse da imensa maioria das forças políticas denominadas de esquerda do nosso país e do Estado, atrapadas no debate nominalista desta segunda restruturaçom territorial da Espanha imposta por Franco que nega o direito de autodeterminaçom.
A massividade, unidade e combatividade que vem caracterizando a greve do metal som três eixos básicos para o sucesso desta luita. Porém o que está em jogo vai muito mais alá do incremento salarial ou da flexibilidade horária. O sindicalismo de classe e combativo nom só deve conformar-se com dobregar à patronal até atingir a totalidade das reivindicaçons. Polo carácter estratégico do sector na específica morfologia industrial galega, pola natureza e antagonismo da composiçom eminentemente proletária d@s grevistas, pola quantidade e dimensom de operári@s implicad@s, pola destacada presença de proletariado jovem, a greve do metal do sul da Galiza nom deve reduzir-se a monstrar o impressionante potencial e fortaleza da classe obreira unida, que a luita é o único caminho a seguir.
A específica conjuntura socio-política galega sobre a que age esta luita também constata as enormes fraquezas da classe obreira ao carecer de organizaçons políticas e sociais revolucionárias com dimensom de massas, única garantia de resistir e parar a voracidade da burguesia, e avançar na recuperaçom das conquistas arrebatadas.
Perante a plena integraçom da direcçom do nacionalismo galego na lógica neoliberal e autonomista da Espanha de Zapatero, a classe obreira galega necessita abandonar o delegacionismo, involucrar-se activamente na urgente restruturaçom da esquerda nacional, avançar na construçom de espaços amplos e plurais de luita obreira e popular para construir a Galiza desde a esquerda. Única garantia de assegurar um futuro digno e de superar os trinta anos de derrotas.
O "sindicalismo moderno" que reivindica Alvarinho, as condenas dos actos "vandálicos" do secretário comarcal de CC.OO de Vigo José Cameselhe, os apelos à "responsabilidade" e criminalizaçom da luita por parte de Delfim Fernandes, o chefe das forças policias no sul da Galiza, e a reclamaçom de repressom policial dura por parte da presidenta da Cámara Municipal de Vigo Corina Porro, situam a cada quem no seu papel. A jovem classe obreira incorporada a esta luita tem que evitar cair nos erros do passado, e os sectores mais veteranos devem livrar-se de voltar a reproduzir esquemas fracassados e transmitir à mocidade proletária a rica experiência do 72 ou a mais recente do 83-89 contra a reconversom industrial do PSOE.